PARA ONDE ESTÁ INDO O SINDICALISMO BRASILEIRO?

por Lauro Carone Novais

Ao observar o quadro político atual, resultante da grave crise hoje instalada no Brasil, via golpe político-jurídico e midiático, e ainda pelo desmonte do Estado que o governo de Michel Temer vem promovendo para atender aos interesses dos que vivem de renda, bem como do capital internacional e congêneres, noto que o sindicalismo, que seria nesse caso uma trincheira para fazer frente aos ataques que a classe trabalhadora vem sofrendo de todos os lados, praticamente capitulou. Tornou-se um moribundo à beira da morte.
Sim, isso mesmo! Depois da aprovação pelo governo da antirreforma trabalhista é visível a estagnação que o sindicalismo brasileiro entrou. Até parece que os caminhos que levaram a essa situação estavam todos preestabelecidos (como um sinal dos tempos) e por isso nada mais há de se fazer para se começar a virar esse jogo. Nem mesmo se dispõe a lutar para obter o financiamento das suas atividades.
Quem sabe esteja à espera que um milagre venha a acontecer e as coisas mudem. Aposta-se, quem sabe, num daqueles conchavos palacianos em Brasília para recolocá-lo novamente de pé. Pura ilusão! O capitalismo nessa fase não admite aos trabalhadores qualquer forma de representação coletiva. A não ser que estes se imponham pela força da luta organizada. O que neste momento não é o caso. Basta que se olhe para o que foi de fato a tal reforma trabalhista e quais os seus efeitos mais nefastos. Os sindicatos perderam a pouca voz que ainda tinham. As negociações, se porventura ocorrerem, serão individuais. E essa história de que as negociações periódicas estão garantindo a manutenção dos direitos, via convenções coletivas, é conversa para boi dormir. Quem viver verá!
Não bastasse isso, os dirigentes sindicais estão agora preocupados em reduzir seus custos, adotando os mesmos métodos dos patrões. O que seriam esses custos? Cortar despesas em vez de ir luta em prol dos seus interesses e dos trabalhadores. Mas cortar despesas com qual objetivo? Baixar o custo da máquina sindical. E por conde começar? Demitindo trabalhadores como estão fazendo os patrões. Mas, espera, os sindicatos não podem repetir o que as empresas tradicionalmente fazem.
Elas, as empresas, o fazem para garantir a manutenção da taxa de lucro. Os sindicatos, não! Que moral terão para lutar contra as demissões, os chamados “facões”, promovidas pelas empresas? No caso patronal não se trata de crise cíclica, mas de desemprego estrutural, objetivando a reprodução ampliada do capital. Trabalhadores demitidos jamais serão contratados. Com isso se está eliminando o posto de trabalho. O demitido de agora poderá até retornar, porém como terceirizado com remuneração 30% inferior e sem direitos. Ou como trabalhadores a realizar jornadas de trabalho intermitentes (trabalho precário). Os sindicalistas dirigentes pretendem também adotar tais medidas? Com qual objetivo?
Se pensam assim eu lhes de digo de antemão que estão todos fadados a dar com os “burros n’água”. E por que antes de demitir os empregados dos sindicatos, esses dirigentes da classe trabalhadora não fazem uma reflexão sobre o que ocorreu no campo político e econômico que está levando à quebradeira das entidades sindicais? Por que não param para analisar as causas desse problema que são intrínsecas a sua matriz neoliberal e não se prepararam para travar doravante grandes combates, como já fazem o MST, MTST e outros movimentos sociais?
O que é ser neoliberal? Os sindicalistas tiveram pelo menos a preocupação de entender o real significado do que vem a ser o neoliberalismo? Não? Pois bem, se não o tiveram foi porque não quiseram aprender e não serei que vou aqui lhes ensinar.
Afinal, são poucos os sindicatos que hoje dispõem de secretaria de formação sindical e política. Veem isso como desnecessário. Não mais investem em formação sua e da base. Por acreditar que já sabiam tudo, que o contato com o patronal e seus prepostos (os RHs) lhes garantia um saber acima do das massas que juridicamente representavam, estagnaram no tempo. Perderam a chance de conhecer de fato de onde veio o golpe que se bateu sobre o sindicalismo e agora estão feitos baratas tontas. O que fazer, então?
O primeiro passo nesse sentido é construir a necessária formação sindical e política para toda a direção (do presidente ao conselho fiscal), assim como para os trabalhadores que alienados por falta de instrução política são presas fáceis dos patrões e da sua mídia. Investir em formação de quadros.
O segundo passo, que deve ser concomitante ao primeiro, é produzir novas formas de comunicação com os trabalhadores que possam ir além do boletim, uma ou no máximo duas vezes por ano, e que pouco ou nada dizem de concreto às massas exploradas pela ganância do capital espoliador. Muitos desses boletins em circulação estão recheados de blá, blá, blá, asneiras (nada dizem).
O terceiro passo é buscar construir a credibilidade necessária para se colocar à testa das grandes mobilizações locais e nacionais em defesa dos direitos perdidos, assim como de outros novos, tal como preconizados pela Constituição de 1988. Ou seja, o sindicalismo com seus prédios suntuosos e seus dirigentes a guiar carrões de último modelo, antes de demitir trabalhadores, cortar custos, achando que com isso são também patrões e assim terão seus problemas resolvidos, precisam se reinventar. Eu disse, senhores e senhoras sindicalistas, reinventar-se (a zona de conforto não mais existe)!
Por fim, deixo aqui a seguinte pergunta: os senhores e senhoras estão dispostos a isso, a se reinventar como dirigentes sindicais, caso queiram continuar representando a classe trabalhadora, em vez de serem varridos pela inexorável e implacável marcha da história?

(Lauro Carone Novais é advogado trabalhista e residindo hoje no Rio de Janeiro).